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"Se alguém fez qualquer coisa que imagina que afeta os outros de alegria, será afetado de uma alegria acompanhada da idéia de si mesmo como causa, isto é, contemplar-se-á a si mesmo com alegria. Mas, se ele fez qualquer coisa que imagina que afeta os outros de tristeza, contemplar-se-á, ao contrário, com tristeza". Baruch Spinoza (1632-1677), filosofo.

"No interior das frases, ali mesmo onde a significação parece ter um apoio mudo em sílabas insignificantes, há sempre uma nomeação adormecida, uma forma que guarda fechado entre suas paredes sonoras o reflexo de uma representação invisível e todavia inapagável". Michel Foucault (1926-1984), filosofo.

Estar apaixonado sempre traz para a pessoa fenômenos cômicos em meio também aos trágicos; e ambos porque a pessoa apaixonada, possuída pelo espírito da espécie (instinto), passa a ser dominada por esse espírito e não pertence mais a si própria. Arthur Schopenhauer (1788-1860).

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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Selvagens por natureza
Autoilusão dá vida aos Homo sapiens globalizados. Vestígios do passado ainda habitam nosso inconsciente. Descobri-los e superá-los é o caminho para extinguir o autoengano

Por Armando Correa de Siqueira Neto

O homem possui uma imensa dívida consigo mesmo. Trata-se da superação do autoengano, elemento de defesa psíquica que atua em seu socorro cada vez que a verdade se impõe dolorosa. O autoengano provavelmente surgiu nos primórdios do uso do raciocínio, quando o ser humano passou a se perceber sob a luz da razão, levando-o, consequentemente, a sofrer com tal descoberta. Quanto mais adentrava no universo da sapiência, maior era a sua agonia ante a visão animalesca e sombria que tinha de si mesmo. Ele precisou defender-se do mal-estar que lhe invadiu impiedosa e esmagadoramente, desenvolvendo, assim, o jogo da autoilusão; exercitado e aperfeiçoado desde então, chegou à contemporaneidade.

Todavia, ascender ao degrau evolutivo de tal superação requer o rompimento com a etapa infantil na qual grossa parte das pessoas ainda se encontra inconscientemente envolvida, atingindo novo e vital estágio de maturidade. Para tanto, é importante parar de apontar o dedo da culpa para o lado de fora de si e entender definitivamente que há uma responsabilidade pessoal a se assumir integralmente diante das consequências causadas.

Não se pode eliminar, contudo, a autoilusão; dispositivo criado pela sábia natureza. O que se pode fazer é reduzir-lhe a potência por meio da tomada de consciência a seu respeito, minando em graus significativos o seu alcance, penetração e, sobretudo, o controle sobre os pensamentos e emoções, cuja submissão encarcera o ser humano, levando-o a ficar refém inconsciente de si mesmo.
O homem crê inocentemente que consegue se autocompreender baseando-se tão somente no nível de percepção que atingiu. Um erro a ser corrigido. Mesmo depois de milênios de evolução, considerando-se o nosso ancestral, o homem de Cro-magnon, originado entre 90 mil e 40 mil anos atrás, e o uso cada vez maior da nova camada cerebral, o neocórtex, pouco se avançou no terreno da consciência pessoal.

Infelizmente, como dominador o homem soube apenas conter o seu próximo, fazendo-lhe mal em graus que variam da simples retenção ao cruel sadismo e, em certos casos, agindo de modo psicopático por meio de comportamentos caracterizados pela frieza afetiva. Foi justamente quando se deu a civilização que, pelos costumes, leis e amparo religioso o homem passou a escravizar o homem.

"Enquanto a responsabilidade não recair sobre si mesmo, a infantilidade permanecerá disfarçada de azar"

Mesopotâmia, China, Egito, Grécia, Roma, América Pré e Pós-colombiana deram a sua aula de escravização com tenebroso primor registrado inequivocamente pelas obscuras páginas da história. Outros registros macabros de dominação vicejam no século XX: os campos de concentração nazistas e os seus 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, entre tantos outros. Ressalte-se que cada época e local teve sua própria alegação para impor a escravidão ou seus ideais, mas o que se aprecia aqui, todavia, é o fenômeno comum da dominação perpetrado pelo homem.

Dominar a si mesmo, no entanto, faltou em demasia. O autodomínio é uma meta. Mas muita acomodação e má vontade são percebidas em pleno século XXI. O fato é que ainda se vê o ser rude esconder-se atrás da aparência social à espreita de uma oportunidade para mostrar as suas garras afiadas, seja por meio de uma tola desavença, seja por meio de uma discussão no trânsito com estranhos ou nas agressões entranhadas nas relações familiares entre marido e mulher, pais e filhos

Na verdade, se for possível admitir, sem recorrer ao autoengano, mesmo sob a dor da torturante luz do reconhecimento, o bicho ainda está bem solto. Tanto na vizinhança quanto dentro de casa, a pré-história e a história coabitam. A autoilusão faz o seu jogo ao entorpecer as ideias do seu autor, alegando-lhe que os outros são atrasados, e ele, ao contrário, é tão somente uma vítima que se vê obrigada a se defender dos ataques violentos, usando para isso, de igual ou superior violência. Não se reflete, porém, que se é prisioneiro das informações genéticas e, portanto, somente por meio da consciência a esse respeito que se pode evoluir e deixar para trás, gradativamente, o lado natural, grotesco e por vezes perigoso.

Olhando para si mesmo

O entorpecimento psicológico turva a mente daquele que se acomoda e pouco luta em seu próprio favor, pois enquanto houver a crença de que os outros são os culpados pelo tipo de vida que se leva, pouco se andará na direção do crescimento. Enquanto a responsabilidade não recair sobre si mesmo, a infantilidade permanecerá disfarçada de azar e infelicidade. Não é à toa que se tornou famoso o grego Sócrates, que tanto cultivou hutterstocka reflexão (“conhece-te a ti mesmo”) e a análise das equivocadas impressões que temos acerca de nós mesmos e das coisas ao nosso redor, fato este que o levou à sentença de morte (sob a acusação de corromper os jovens, desrespeitar os deuses e violar as leis) por maioria de votos dos 500 atenienses que o julgaram em 399 a.C.

Porquanto o grande objetivo no momento, além de sobreviver, é virar o jogo e passar a dar as cartas. É a superação do Homo sapiens, do salto que se pode dar em vez de se manter nas passadas lentas e frustrantes tão comumente observadas. Da inconsciência acerca daquilo que se crê ser a consciência do que se é de fato. Do autoengano exagerado à noção mais realista sobre si mesmo. Da culpa alheia à responsabilidade pessoal. São atitudes essenciais, sem as quais se emperra o processo da transformação pessoal. Sem enxergar a ferida não procuramos a ajuda necessária. Aceitando-a com a devida clareza, porém, corremos na direção do auxílio.
“Você quer mudar e se superar?” Essa não é uma pergunta qualquer e pressupõe análise crítica, profunda, antes que se responda. O ponto central está no fato singular de que somente a pessoa pode se autorizar a autoavaliar-se, optando, por direito (quiçá o dever), ao desenvolvimento em maior escala.

Saiba mais

Sem o autoengano, nossa vida seria extremamente dolorosa. O livro Auto-Engano (Companhia de Bolso) mostra, em uma linguagem acessível, como nos sabotamos para que nossa vida possa ter o encanto que acreditamos que ela tenha. A obra também mostra as mentiras que costumamos nos pregar, o perigo dos excessos e como evitar sofrimento com a autoilusão.

Fonte: Portal Ciência e Vida, da Revista Psique, Edição 44, em 22/08/2010, às 11:32.

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